Tive uma tarde deliciosa no último sábado.
Comecei a preparar a atmosfera do espaço ao meio dia. Detalhes do cenário, pufs e almofadas para as crianças. Água aromatizada, kibe vegetariano de forno, paçocasss... Aquecimento vocal e corporal, figurino, maquiagem. Fui fazendo tudo com muita calma e carinho.
Meia hora antes do público chegar Márcio Reiff e sua nova parceira de trabalho começaram a receber os convidados na sala de espera. Somente tocando sanfona e percussão eles foram construindo uma deliciosa atmosfera para o público, mirim e adulto.
Eu estava lá, recebendo cada um que chegava.
Primeiro o filho e sobrinho da produtora Bia Gomes, que já estava lá comigo, ai uma bebezinha de 8 meses, mais um sobrinho, e mais um primo e minha afilhada... e mais sobrinhos e amigos... E por fim estávamos todos na sala de espera nos divertindo com o histriônico Márcio, que encantava com novas possibilidades sonoras para o público infantil... Um instrumental com músicas argentinas, francesas, hispânicas... uma delícia.
Chegou então o meu momento de contar histórias.
Todos foram para o espaço que já estava preparadinho...
Logo percebi que estavam bem acomodados. Mamães com bebês de colo em cadeiras confortáveis... Bolinhos de crianças no tapete, pais abraçadinhos com seus filhos....
Tudo muito propício para se contar história. E para completar estava um dia bem intimista, muita chuva e frio.
Aliás, fiquei até surpresa de ter a casa tão cheia num dia onde imaginei que ninguém sairia do sofá.
Enfim.... tudo pronto e eu comecei.
Fui devagarzinho... conversando com as pessoas.
Comecei assim, bem presente. Teve que ser dessa forma, eu precisava estar muito conectada, porque a verdade verdadeira.... é que algo estava me incomodando e eu não sabia bem o que era.
Então, fui sentindo o espaço.
Logo percebi o que era: eu não conseguia ver o público direito.
Quando conto histórias gosto de contar com o público e não unicamente para o público. Todas as vezes que contei histórias foi em lugares onde eu via plenamente o público e, quando não conseguia vê-lo, pedia para que o iluminador jogasse luz na plateia.
Mas nesse sábado foi diferente.
Não havia iluminador.
Havia apenas um foco de luz intimista em cima de mim.
Confesso que isso me incomodou um pouco durante todo o processo. Mas eu estava ali. No foco das atenções. E tinha uma história para contar. Então segui.
Eu havia planejado utilizar várias pessoas da plateia durante a história. Mas, como não conseguia trocar olhar com elas, decidi chamar apenas uma. Escolhi uma pessoa que eu sabia que estava conectada comigo independente de qualquer escuridão. E essa pessoa era o Márcio Reiff. Ele foi um ótimo colaborador da história. Se manteve conectado comigo. Realizou cada coisa que eu sugeri na minha narração. Sua nova parceira de trabalho também entrou na roda. Como é uma ótima percussionista a coloquei para fazer vários sons importantes da narrativa.
Com esse auxílio fui relaxando... e no meio da história eu já estava super a vontade e convidei vários pimpolhos para me ajudarem a realizar sonzinhos no decorrer da história.
Percebi que todos estavam realmente conectados, quando mantive o silêncio e a tensão em uma parte da narração por um longo tempo. Todos estavam ali, comigo... silenciosos, atentos, esperando o próximo acontecimento.
Terminei a história com um singelo "e eles viveram felizes para sempre". Recebi suaves aplausos e deliciosos abraços das crianças, que ao final da história se divertiram brincando com os instrumentos de percussão que utilizei na narração.
Acabei o dia percebendo que uma boa história se conta com luz natural, com uma super iluminação de teatro ou no escuro,.... Porque o que importa mesmo é dizermos algo verdadeiro e do coração e termos pelo menos 1 pessoa querendo nos ouvir.
Aiiiiii espero que no sábado que vem eu tenha várias querendo ouvir minha história africana!!!!!